Boatos (fake news) na Internet, leia antes de compartilhar

Como saber se a notícia é falsa ou verdadeira?

publicado em 21 de novembro de 2016
por Marco Fontaneti
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Me diz... Quantas histórias falsas você já passou adiante pela internet? 

Flanelinhas jogando ácido em motoristas, a morte de Jackie Chan, governo distribuindo vacinas vencidas (atualização 2020/21: vacinas com microchips para te rastrear, ou que vão alterar seu DNA), chefe da NASA dizendo que a terra ficará na escuridão, que o Facebook vai passar a ser cobrado, o livro didático usado nos EUA onde a Amazônia aparece como área internacional, etc etc... 

Em entrevista à Radio Jovem Pan, Edgar Matsuki, editor do site Boatos.org, especializado em verificar a veracidade desse tipo de boatos diz que "existem cada vez mais boatos recorrentes, aqueles que vão e voltam" praticamente todo ano. Ele diz que "se você analisar um pouquinho mais profundamente, você vê que a história não se sustenta" e que as informações não batem. 

Além dessas notícias totalmente forjadas, também há os boatos que embora não sejam mentirosos forçam um pouco a barra, distorcendo ou exagerando as informações. Esse tipo de boato é muito comum na área de alimentação e saúde e quase sempre deixa de informar dados importantes como datas e nomes que permitam verificar sua autenticidade. 

Nesta categoria estão notícias do tipo: banana com a casca escurecida cura câncer, determinado suco cura tal doença, receitas milagrosas... e por aí vai. 

Uma outra categoria de informação falsa são as famosas promoções, as correntes e os "passe pra frente, todos precisam saber disso", hoje muito comum no WhatsApp e no Facebook. Exemplos: se você repasar o email tal criança receberá doações, uma pessoa precisando de doação de sangue, novas leis, indignação com medidas políticas, curta e compartilhe e concorra a uma Hilux Zero Km, faça isso o o novo recurso será ativado, faça isso para evitar aquilo, etc. 


Verdade ou mentira? Siga essas dicas! 

Estamos falando de boatos e notícias falsas. Mas é claro que nem tudo é mentira. Então, como saber quando é mentira ou verdade? Algumas dicas bem fáceis de seguir: 

1) Leia antes de repassar. Óbvio né? Mas o fato é que, pra não perder tempo e com a intenção de ajudar, as pessoas simplesmente vão repassando informações que nem elas mesmas leram. 

2) Analise o jeitão da mensagem. Os boatos quase sempre tem algumas peculiaridades, por exemplo: (a) não citam nomes, títulos ou números com um grau de detalhamento que permite serem checados; (b) usam textos em CAIXA ALTA e com tom alarmante, cheio de exclamações (!!!); (c) costumam ter erros de gramática ou de grafia; (d) tem tom de denúncia conspiratória do tipo "o que a Rede Globo não mostra" ou "o que eles não querem que você saiba"; (e) tentam passar um senso de urgência do tipo "saiu agora!" ou "acabou de acontecer" e (f) pedem para repassar a mensagem adiante, com frases como "vamos fazer chegar no Brasil inteiro", "se cada um repassar para todos os seus contatos em um hora atingiremos 100 milhões de pessoas" ou "repasse urgentemente". Se você encontrar essas características na mensagem, desconfie. 

3) Analise a fonte e rastreie a origem da mensagem. O site onde você viu a notícia é confiável? E a pessoa que passou a informação pra você, ela pegou direto da fonte ou está apenas repassando de outra pessoa, que repassou de outra, que repassou de outra... todas sem checar nada, afinal elas devem ter pensado "ah, meu amigo não passaria pra mim se não fosse verdade" não é mesmo? Mas será que a mensagem procede?  Uma dica é tentar rastrear até chegar no autor original da mensagem. 

4) Se você não tem certeza se a informação procede, vai lá no Google e pesquisa pelo título ou por uma parte da mensagem (copiando e colando). Quase sempre os resultados da busca já te dão pistas sobre a veracidade ou não da informação. 

5) Consulte o site oficial da empresa, órgão ou pessoa citada. Por exemplo, se você lê um post dizendo que a Toyota está sorteando uma Hylux pra quem curtir, vai lá no site da Toyota e veja se procede. Muitas empresas privadas e órgãos do governo até criaram páginas só para esclarecer e desmentir informações falsas. 

6) Consulte um site especializado em boatos. Alguns que recomendamos são: 

E-farsas e Boatos.org - São precursores do gênero, o E-farsas existe desde 2002 e o Boatos.org desde 2013,. Neles é possível pesquisar sobre a maior parte dos boatos amplamente difundidos na rede, desde os mais antigos ao mais recentes e aqueles que são recorrentes e voltam de tempos em tempos. Os autores do site além de pesquisar a origem dos boatos e fake news, tenta fazer uma análise minuciosa sobre os pontos contraditórios contidos na informação que está sendo divulgada. 

Fatos & Boatos - Era um site criado pelo Governo Federal e lançado no final de 2015. Nesse site eram esclarecidos fatos relacionados a política. Mas não está mais disponível, talvez por falta de interesse do atual governo (estamos em 2021 no momento em que escreve isso).

Verdades e Boatos - É um site institucional desenvolvido pela Coca-Cola para esclarecer os boatos espalhados sobre seus produtos. 

Me Engana Que Eu Posto - Blog da revista Veja que promete a "verdade por trás de manchetes falsas que se espalham pela internet". 

Agência Lupa - A Lupa é uma plataforma de combate à desinformação através do fact-checking e da educação midiática, fundada em 2015, integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de checadores de notícias. Bem completo, detalhado e atualizado. 

E recomendo também a leitura do texto "Hoax: os perigos dos boatos na internet" que explica muito bem a dinâmica de criação e viralização de um boato - ou hoax. 


Reflita um pouco... 

Em artigo no G1, o colunista Ronal Prass, esclarece: 

"A recomendação é que antes de compartilhar qualquer informação, quando possível, seja verificada a sua veracidade. Não é porque está publicado em blogs, sites, redes sociais, ou compartilhado em grupos do WhatsApp que necessariamente é verdade. Existe muito conteúdo criado apenas para conquistar seguidores e acessos, e assim monetizar o site através de anúncios. Isso não significa que todos produtores de conteúdo independentes não sejam considerados confiáveis, porém não existe uma regra que permita identificar as fraudes facilmente. E na dúvida, é mais apropriado abrir mão de eventuais curtidas recebidas do que contribuir na sua divulgação de boatos." 

Quando você toma estes cuidados, consegue saber o que é uma informação verdadeira e importante de ser divulgada e deixa de espalhar histórias falsas de maneira irresponsável, que além de tomar tempo precioso das pessoas, podem prejudicar alguém. 


E é crime, sabia?

Segundo informações fornecidas por especialistas para reportagem do jornal O Globo, "criar ou espalhar um boato pode ser considerado contravenção penal contra à paz pública, caso tenha gerado pânico na população por alertar para um perigo inexistente. Ou se o boato gerar dano para alguém, cabe reparação em dinheiro e algumas vezes também com retratação pública. E mais, a legislação não tem pena diferente para quem criou o boato e para quem compartilhou ou reagiu à postagem." diz o jornal.


Mídia e Histeria Coletiva

Nos acostumamos, principalmente a geração que cresceu tendo a TV e os jornais como a principal e única fonte de informação "confiável", a adotar a seguinte lógica: "se passou na TV ou saiu no jornal, é verdade". Mas não, não... Isso nunca foi 100% verdadeiro e agora o que se observa é que a cada dia os veículos de comunicação importam-se menos com a veracidade do que publicam ou divulgam. 

Acontece que muitas vezes, quando um boato é fortemente baseado no medo (doenças, segurança pública, integridade dos nossos filhos) e ganha força própria, aqueles que estão divulgando com boas intenções começam a compartilhar "provas" de que aquilo é verdade, mostrando justamente que saiu em tal jornal ou passou em tal canal de televisão. 

Nestes casos de boatos sobre ataques de grupos criminosos, doenças e epidemias, teorias conspiratórias, três observações são importantes: primeiro, cuidado com manchetes sensacionalistas que só querem ganhar audiência e veiculam notícias com baixíssimo grau de confiabilidade que podem até conter elementos verdadeiros, mas totalmente distorcidos; segundo, saiba que os jornalistas (e os policiais, os médicos, etc) são tão vulneráveis à histeria coletiva quanto você; e terceiro, saiba que existem muitos maus profissionais de comunicação, e hoje também muitos canais alternativos de informação, que não entendem a responsabilidade que sua profissão exige, ou seja, não tomam os cuidados básicos para verificar a autenticidade e veracidade das informações que estão divulgando e simplesmente "passam adiante" o que chega pra eles.

Tudo isso sem falar no viés da confirmação, que é a tendência de se lembrar, interpretar ou pesquisar por informações de maneira a confirmar as crenças ou hipóteses que a pessoa já tinha. Para entender melhor veja o verbete na Wikipedia.

Então veja que tão importante quanto alertar as pessoas para potenciais perigos e riscos, é tomar cuidado para não ser um "fantoche do mal" que espalha pânico, medo e terror por aí. Isso faz tanto mal quanto. E muitas vezes é o próprio combustível para que aquilo que se teme aconteça ("profecia auto-realizável" ou "uma mentira contada mil vezes torna-se verdade").  


[Atualização] Fake news como estratégia de comunicação e a importância da educação midiática 

Escrevo essas novas linhas no post em março de 2021 e o fato é que desde que publiquei a primeira versão desse post em 2016 o uso de fake news (que nos post original eu chamava de boatos) como estratégia de comunicação política, principalmente de extremistas, aumentou muito e tornou-se um ponto crítico para a manutenção da democracia, do respeito ao indivíduo e à coletividade.

Entrou também em cena o whatsapp e ele se tornou um dos principais canais de distribuição de notícias falsas, sejam intencionalmente ou não.

A educação midiática (conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos) é cada vez mais importante.

"Todo mundo produz e todo mundo consome conteúdo – e o excesso de informações é um desafio ao senso crítico. Como diferenciar fatos de opiniões? Como produzir e compartilhar mensagens com responsabilidade? Lidar com esses obstáculos altera profundamente a ideia de alfabetização. Não basta ler o que chega às nossas mãos. É preciso interpretar intenção, autoria e contexto. É preciso dominar as ferramentas e as linguagens que nos permitem ter voz nesse ambiente." (trecho do verbete Educação Midiática na Wikipédia)

Espero com esse post estar contribuindo um pouco para o desenvolvimento dessa consciência.

[Texto escrito por Marco Fontaneti, consultor da Pratza Websites, publicado em 21/11/2016 e atualizado em 21/04/2021.]